São Paulo – Foi por acaso que o fundador do Grupo Fienile, Gustavo Alexandre Grossi, descobriu uma forma de ampliar a produtividade das lavouras cerca de dez anos atrás. A partir daquela descoberta surgiram projetos, uma empresa – a Fienile – e diversas negociações mundo afora, além de prêmios e reconhecimento em países árabes do Golfo, como o Catar e o Bahrein.
Ao caminhar pela fazenda da família, em Monte Carmelo, Minas Gerais, certa noite notou que as plantas de um talhão da plantação eram muito maiores do que as outras e que elas eram iluminadas por um poste de luz por toda a madrugada. “As plantas de soja que recebiam a luz eram as maiores. O seu tamanho diminuía à medida que recebiam menos luz”, recorda, em conversa com a reportagem da ANBA na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo.
Ele chamou à fazenda fornecedores de sementes e especialistas com os quais já trabalhava para compreender a diferença entre as plantas. Aquelas que recebiam mais luz tinham entre 1,90 metro e dois metros de altura e uma produtividade estimada de 290 sacas de 60kg por hectare enquanto um pé de soja tem, em média, um metro de altura e produtividade média de 60 sacas de 60kg por hectare. Essa produtividade pode variar conforme condições de solo, pluviometria, iluminação e localização geográfica.
Plantas serem maiores porque recebem mais luz, inclusive artificial, não é incomum em fazendas. Mas foi a partir desta percepção que ele começou a pesquisar formas de proporcionar mais luz à lavoura. Ainda em 2015, criou o Grupo Fienile, que por quatro anos atuou dentro de sua fazenda e desenvolveu o primeiro sistema de pivô de irrigação com suplementação luminosa no mundo em área externa, já patenteado pela empresa. Em áreas internas, são comuns e muito utilizados, inclusive, em fazendas verticais no mundo árabe.
Ao mesmo tempo em que irrigam as plantas, as máquinas iluminam a lavoura com luz artificial de led e ampliam, assim, o tempo de iluminação que as plantas recebem. Esse excedente de luz além da luz natural estimula a fotossíntese e resulta em uma produtividade maior. A tecnologia, que está sob o guarda-chuva da marca Irriluce, pode ser empregada, diz Grossi, em qualquer cultura.
Viagem a países do Golfo
Entre 2018 e 2019, o empresário ou a divulgar os resultados desta inovação até que, em 2020, foi convidado para um projeto no Oeste do Paraná apoiado pelo Parque Tecnológico de Itaipu (Parquetec). Desde então, Grossi participa de apresentações e reuniões. Fez contato com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira durante um projeto com a cooperativa C.Vale, também no Paraná. A Fienile se associou à instituição em 2022 e, no ano seguinte, participou de uma missão empresarial a países do Golfo por meio do projeto CCAB Lab, que é o polo de inovação da Câmara Árabe.
Grossi já esteve em eventos e reuniões de negócios nos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar, entre outros países do Golfo, recebeu homenagens pelos projetos inovadores da companhia e tem negociações avançadas com empresários destas nações. Os árabes, diz Grossi, manifestaram o interesse por um outro negócio que a Fienile tem em parceria com a companhia Nano Agro: uma tecnologia que melhora a qualidade da água. “Aumenta a oxigenação, injeta cargas de ozônio para deixar a água livre de bactérias, fungos e vírus, uma água de alta qualidade para as plantas”, explica.
“A nossa nanotecnologia tem um diferencial. As maiores empresas do mundo conseguem alcançar um bilhão de nanopartículas, de bolhas, por milímetro de água. A Fienile produz, com a Nano [Agro], 15 bilhões”, diz. “A segurança alimentar é fundamental para os países árabes. Mostramos para os árabes que eles podem investir em tecnologia e produção dentro do seu território, do seu país, para que não dependam tanto de importações ou de investimentos em outras nações”, afirma Grossi sobre as conversas no Golfo.
Mundo afora, a Fienile desenvolve também projetos em Coimbra, em Portugal, e poderá, em breve, fechar negócio com uma empresa de Málaga, na Espanha, que precisa ampliar a sua produtividade de abacates e mangas. Este cliente, explica Grossi, precisa ampliar a iluminação dos pés dos frutos pois a região carece de luminosidade.
Seus produtos, explica Grossi, acabam por entregar ao cliente maior eficiência no consumo de água, de energia e reduzem o consumo de agrotóxicos. “As cooperativas, as empresas estão enfrentando problemas com a [escassez de] água, assim como as pessoas. Não podemos vencer a mãe natureza, mas podemos reduzir seus impactos”, diz.
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