São Paulo – O economista-chefe do banco BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou nesta quinta-feira (6), na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, que a economia brasileira ainda está aquecida, deverá ampliar o saldo da balança comercial sobre 2024 e tem indicadores econômicos melhores do que há dez anos. No entanto, a dívida pública crescente precisa ser contida e o cenário global turbulento gera incertezas.
Almeida integrou o primeiro encontro do ano do CCAB Conecta, evento que explora assuntos de interesse de empresas associadas da instituição. Nesta edição, intitulada Perspectivas Econômicas 2025, estiveram Almeida e a CEO para a América Latina do First Abu Dhabi Bank, Angela Martins. O bate-papo foi aberto pelo presidente da Câmara Árabe, William Adib Dib Junior, e mediado pelo vice-presidente de Comércio Exterior da Câmara Árabe, Daniel Hannun.
“Temos um governo novo nos Estados Unidos, um presidente novo [Donald Trump] que está adotando um aumento de tarifas e ninguém sabe exatamente qual será a magnitude deste aumento”, disse Almeida, lembrando que aumentos de tarifa no comércio mundial tendem a impactar o crescimento da economia e a provocar movimentos inflacionários. Inflação maior nos Estados Unidos leva a aumento da taxa de juros, valorização do dólar e desvalorização das outras moedas.
“Dito isso, o Brasil está um pouco protegido, mas não totalmente, porque nossa relação bilateral com Estados Unidos tem um leve superávit para os Estados Unidos. É bem diferente da relação com México, Canadá e China. Então, diretamente, não teria por que os Estados Unidos entrarem em rota de colisão e aumentarem tarifas de importação brasileiras para lá. Mas, indiretamente, qualquer coisa que mexa em cadeia de produção – aprendemos isso no pós-covid – tem impacto muito forte em toda a economia”, disse o economista.
Almeida afirmou que, no cenário doméstico, o Brasil tem apresentado crescimento consistente, tem obtido elevados e seguidos superávits na balança comercial e deverá colher uma “supersafra” de grãos neste ano. Por outro lado, a taxa de juros deverá continuar a subir para conter a inflação.
“Embora não tenhamos nenhum grande problema setorial, temos um problema muito sério que é a questão fiscal, que leva a crescimento da dívida em cenário de mercado de trabalho apertado [aquecido], custos da inflação para cima e leva o Banco Central a aumentar juros para reduzir inflação”, disse. Mesmo com esses desafios, Almeida se disse “mais positivo” com a economia brasileira hoje do que estava há dez anos.
Com os árabes, mais oportunidades do que desafios
Se, por um lado, existe incerteza sobre a economia global e a relação do Brasil com os Estados Unidos, por outro há um ambiente de parceria e oportunidade com os países árabes do Golfo, disse Angela Martins.
Em sua apresentação, a executiva do First Abu Dhabi Bank afirmou que países do Golfo, sobretudo Emirados Árabes e Arábia Saudita, estão comprometidos com a transição energética e apostam nela como parte fundamental da sua diversificação econômica. Nos Emirados, disse, setores que não são relacionados ao petróleo já respondem por metade do Produto Interno Bruto (PIB).
Os investidores dos países árabes, disse Angela, têm demandado uma participação maior de empresas brasileiras em seus territórios. “Ao longo dos anos, o Brasil sempre pensou pelo lado da exportação brasileira e da atração de investimentos árabes para o Brasil. Mas houve uma expectativa do lado árabe de que em algum momento isso fosse se modificar e houvesse um incremento das exportações dos países árabes para o Brasil e investimentos brasileiros na região do Golfo. Isso tem crescido mais fortemente nos últimos anos”, disse.
Angela citou alguns setores dos países do Golfo que empresas brasileiras podem explorar seja porque há demanda, seja porque neles o Brasil se mostre competitivo. Entre os setores, citou saúde, educação, logística, tecnologia, sustentabilidade, transição energética e alimentos, pois segurança alimentar é e continuará a ser um desafio para os países do Golfo.
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