São Paulo – Entrei na recepção do hospital para saber em que horário seria aberto para visita de turistas, e vi o primeiro. Aquele bichinho, bem ao meu lado, me causava estranheza. Ainda faltava uma hora para que turistas como eu pudessem conhecer o local, então sentei nos bancos em frente ao hospital, em uma típica manhã ensolarada do deserto, para esperar. Logo chegaram alguns árabes com seus carrões, suas vestes brancas e seus falcões.
Eu estava lá para conhecer um hospital de falcões, uma das atrações turísticas mais exóticas de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, que não nasceu como local turístico, mas acabou abrindo uma brecha para os visitantes tamanha a curiosidade que despertou. Um homem de túnica sentou em outro banco a poucos metros com seu falcão. Outros homens foram chegando com os animais, alguns davam um tempo em frente ao hospital, outros ficavam na recepção.
Eles provavelmente estavam ali para algo cotidiano, para fazer um check-up nos bichos, cuidar de algum problema de saúde, mas, para mim, ter um pássaro enorme daqueles a poucos metros era algo bem curioso, não há como não ficar olhando – e olhando, olhando e olhando de novo. Fui me familiarizando com os bichinhos, que são animais de estimação locais. Como o nosso cachorro – pensei.
O grupo de visitantes foi recebido pela diretora executiva do Abu Dhabi Falcon Hospital, Margit Müller, uma mulher falante e animada. Ela contou a história do hospital, de como a procura dos turistas fez o local de estruturar para essa visitação, do atendimento a outros emirados e países da região, da transformação também em centro de pesquisas, da abertura de um hotel para falcões e do atendimento a gatos – outro animal de estimação local.
Há muitas informações e curiosidades sobre o hospital e o falcão para ouvir no museu onde Margit recebe os turistas, mas chama a atenção que aquela é uma iniciativa para preservar o animal que tem tudo a ver com a história dos Emirados, cujo povo é originário da vida beduína. Os beduínos têm o falcão como um companheiro nas suas trajetórias pelo deserto e o animal se tornou símbolo dos Emirados. Seu desenho está no brasão de armas.
A parte mais interessante da visita é o contato com os falcões e a demonstração de como são tratados no ambulatório do hospital. No local eles eram vários no começo de dezembro, todos empoleirados com os olhos e os ouvidos tampados para não terem o ímpeto de saírem voando. Veterinários cuidadosos contam sobre os tratamentos oferecidos e fazem demonstrações com um dos bichinhos que está em fila de atendimento.
No final, os turistas têm direito a uma foto com alguns dos falcões mais dóceis. Os falcões ficam nos braços das pessoas, na altura do punho, protegido por uma munhequeira. Parece assustador ter um pássaro tão grande no braço? Ao pisar no hospital eu achei que seria, mas o falcão que tirou foto comigo parecia ser um rapaz manso que gostava de se exibir. Olhava para mim, olhava para a câmera.
Todos que recebem os turistas no hospital demonstram ser bem preparados para isso, conseguem contar as histórias mais sérias com humor. A visita segue com um tour por uma área com os prêmios recebidos pelo hospital e depois pela área externa, ando por pontos como o hotel dos falcões. O local é grande e alto, parece um ginásio de tamanho médio, e ali os bichos podem voar e conviver uns com os outros. O eio acaba em um outro museu, onde ficam fotos dos principais líderes dos Emirados, atuais e do ado, com seus falcões.
O hospital de falcões é um lugar para conhecer mais sobre a história dos Emirados, sobre o cotidiano e as paixões dos seus moradores, e para ver também como eles buscam excelência e diferencial em quase tudo o que fazem, inclusive no atendimento aos falcões. O local foi criado em 1999 e é o maior hospital de falcões do mundo, uma referência de pesquisa em medicina veterinária na área. Desde a inauguração já foram atendidos 110 mil animais.
Depois de algumas horas andando pelo hospital, o falcão deixa de me causar a estranheza inicial e parece só mais um bicho de estimação, até com uma certa fragilidade. Afinal, eles estão no local para tratamento – ou para se hospedar! Ah, os Emirados e suas criações!