São Paulo – O plástico, usado em todas as esferas da vida humana contemporânea, do saco de supermercado a peças de carro, é um dos produtos que, quando descartado, valem muito pouco na cadeia da reciclagem. E, uma vez na natureza, não se degrada, poluindo solos e, principalmente, rios e oceanos. Foi pensando nesse contexto que o canadense David Katz criou, em 2013, a Plastic Bank, uma empresa prestadora de serviços que, por meio da tecnologia blockchain, rastreia todo o caminho que o plástico faz desde quando é resgatado por catadores até sua reciclagem nas indústrias de processamento. Em 2019 a Plastic Bank começou a operar no Brasil.
O modelo de negócios é simples: uma indústria, normalmente produtora de plástico ou uma que o utiliza em seus produtos, contrata a Plastic Bank para reduzir sua “pegada plástica”. A Plastic Bank, por sua vez, faz um levantamento de pontos de coleta e de catadores, em geral no entorno da própria empresa que contratou, e das chamadas indústrias de processamento, onde o plástico é reciclado. Também faz todo o compliance, de acordo com os padrões da matriz canadense, para checar se não há trabalho infantil ou em condições análogas à escravidão ao longo da cadeia.
Em seguida, ela faz o cadastro dos catadores (via associações, cooperativas ou não), dos pontos de coleta, e coordena a logística até os locais de processamento. Para cada quilo coletado, o catador recebe R$ 0,35 da Plastic Bank Brasil (fora o valor por quilo que ele já recebe do ponto de coleta, que varia de acordo com cada local e com a época do ano). Quando chega ao ponto final, nas indústrias de processamento, o material é transformado no “plástico social”, que pode ser reutilizado em novos produtos e embalagens, reforçando uma cadeia circular de suprimentos.
“O nome ‘bank’ vem justamente da ideia de transformar o plástico em dinheiro”, conta Ricardo Araújo, diretor de operações da empresa no Brasil. “E o bônus por performance gera impacto social porque quanto mais ele coleta, mais ele ganha, e impacto na natureza porque mais plástico é retirado dos lixos.” Segundo Ricardo, a tecnologia usada permite saber quantas pessoas participam do processo, com quanto cada um contribuiu e que fim aquele plástico coletado levou, tudo de forma transparente e ível.
O nome ‘bank’ vem justamente da ideia de transformar o plástico em dinheiro
Ricardo AraújoPUBLICIDADE
De novembro de 2020 a dezembro de 2024, a empresa canadense já pagou R$ 2,5 milhões a catadores brasileiros. Ao aderir ao programa, os catadores aumentam, em média, 30% sua renda. Hoje, a empresa está presente no Rio de Janeiro, São Paulo e no Espírito Santo. “Este ano é chave para a nossa empresa pois estamos com projetos que vão expandir nossa operação para o Sul e para o Norte do País”, diz o diretor.
Entre os clientes em solo brasileiro estão a Lord, Davines, Alcon, WeDo e Reckitt. No mundo, a SC Johnson e a Henkel são algumas das principais apoiadoras do programa. Foi a pedido da SC Johnson, aliás, que a Plastic Bank veio parar no Brasil, pois queriam impactar em seu braço de produção brasileiro. Somente a operação patrocinada pela Lord, empresa brasileira produtora de filme e plástico flexível, garantiu a retirada de 60 toneladas em 2024. Para 2025, dobraram a aposta: serão 120 toneladas coletadas.
Todo plástico reciclável é usado no programa. E, para cada tipo, existe uma indústria de processamento diferente – cabe à Plastic Bank Brasil achar os locais certos para os diferentes plásticos. Os valores pagos aos catadores também variam de acordo com os tipos de material. Hoje, o que mais tem valor é o PET e as garrafas PET. E o de menor valor é o plástico filme. “Mas, como tudo, os valores são sazonais”, diz Ricardo. “Quando tem menos oferta de um tipo, o valor dele na reciclagem sobe”.
Tecnologia
O blockchain usado pela Plastic Bank é privado e vem de uma parceria com a IBM, com armazenamento híbrido em servidores na nuvem (IBM Cloud) e físicos (IBM em Londres). A tecnologia permite, através do registro de dados no aplicativo, monitorar a cadeia de ponta a ponta em tempo real. Com a operação, as empresas que participam de programas de compensação plástica ou fazem uso do Plástico Social têm o a informações seguras sobre a origem e o destino do material, de forma transparente. Além de Brasil e Egito, a Plastic Bank está também na Indonésia, nas Filipinas, em Camarões e na Tailândia.
Plastic Bank Egito
No país árabe, a empresa chegou em novembro de 2020. Em menos de cinco anos, já coletaram 20 milhões de quilos de plásticos dos lixos, e com apenas 11 pontos de coleta cadastrados (no Brasil, eram 30 até o começo de 2025). Segundo Ricardo Araújo, o Egito tem uma vantagem em relação ao Brasil no que diz respeito à localização geográfica. “Dali de onde estão, eles conseguem enviar o plástico coletado para ser processado em países da Europa, e sem gastar muito dinheiro com isso”, explica.
NÚMEROS DA PLASTIC BANK
8 bilhões de toneladas de garrafas plásticas a menos nos oceanos
57 mil coletores contemplados nos países onde atua
448 localidades onde atua
7 milhões de quilos coletados no Brasil
20 milhões de quilos coletados no Egito
Fonte: Plastic Bank Brasil
Reportagem de Débora Rubim, em colaboração com a ANBA
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